sábado, 28 de junho de 2008

Começa a ficar tudo demasiado desarrumado. A cama por fazer com as calças do pijama em cima da almofada amarrotada de mais uma noite mal dormida, a camisola no chão pisada uma e duas vezes. As almofadas que servem de decoração quando a cama está como a mamã gosta, estão empilhadas em cima da arca guardadora de tesouros esquecidos no tempo, por baixo, vários livros já lidos que esperam pacientemente lugar na cómoda cheia. Cheia de outros tantos livros, alguns ainda por ler. As molduras estão vazias. "Retratos nas molduras lembram-me pessoas mortas". A secretária já teve melhores dias. Toneladas de papéis fazem-na curvar-se e romper-se em duas, o computador adormeceu e as canetas sem tinta teimam em surgir das gavetas. Para um lado o gravador de voz (importantíssimo para uma aspirante a jornalista), para outro o livro-a-ser-lido. A agenda e a inseparável lapiseira marcam passo ao lado do mealheiro vazio. "Tenho de começar a fazer poupanças". O candelabro está um bocado torto mas as velas que lá vivem parece que não se importam. Importado foi mesmo o CD que está a tocar, que na verdade se importa comigo, ou para ele tocar importa o meu estado de espírito? Não sei, mas serve. O que não serve é as gavetas estarem a abarrotar de coisas que já nem sei o que são ou o que foram. Mas eu gosto de viver no caos. "O caos pode ser uma forma de organização não pode?".

quarta-feira, 4 de junho de 2008

Acordaste mais cedo que ele. Já não estás habituada a partilhar uma cama, ainda que seja enorme e com espaço para criares uma barreira de lençóis intransponível. Rebolas na cama, destapas-te para sentir o frio na cara e voltas a tapar-te vezes sem conta, com medo que ande por ali alguma alma perdida. Perguntas o que estás ali a fazer, àquela hora da manhã, em que o sol mal se levantou e as pessoas dormem sob o abismo. Olhas para o lado. Perguntas quem é ele, embora o conheças há demasiado tempo, tanto tempo que a pergunta torna a ganhar novo sentido. E abanas a cabeça, para afastar estas perguntas tolas, virando-te de costas. Não queres saber. Não precisas saber. Dorme.

Preto. Vermelho. São vultos. Muitos. Poucos. Parecem muitos. São realmente muitos. Com capas. Olhares vazios. Mãos. Muitas mãos. Agarram-te. Querem-te puxar. Vai com eles. Angústia. Sente-se o frio. O coração aperta. A mão agarra-te. NÃO!

- Era um sonho querida, tem calma.
- Acordei-te? Desculpa. Não sei o que se passou comigo. Foi um pesadelo. Era estranho.
- Não te preocupes, agora já passou. Volta a dormir, ainda é cedo.

Ainda é cedo... Cedo, para quê? Perguntas tu. Cedo para levantar e ir trabalhar? Cedo para ser sincero? Cedo para ter medo? Cedo para "sempre"? Cedo para "nunca"? Cedo, desconstruída assim, a palavra nem parece ter sentido. Mas para ele a dizer é porque tem, não é? Faz sentido... Senão não dizia, claro. Para quê dizer palavras sem sentido?

terça-feira, 3 de junho de 2008

Tinhas razão M.

Estar sozinho é sentir tudo ao máximo porque sentes só tu, sem partilhas. A alegria torna-se num estado de euforia tal que parecemos novamente crianças, daquelas que saltam em cima da cama e dançam desenfreadamente. Tudo corre bem, o sorriso é de orelha a orelha. Mas quando a tristeza vem, vem com a força de uma tempestade e arrasa-te por completo. E aí, não tens ninguém que te dê um abraço, que esteja ao teu lado apenas para te fazer companhia. Só porque sim. Aí lembras-te que estar sozinho não mete assim tanta graça.